segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Porque optar por um parto consciente vai lhe causar algumas decepções

Eis um fato incontestável! Quando uma mulher e seu companheiro optam por buscar uma gestação, parto e pós-parto mais conscientes, quando essas pessoas buscam escolhas informadas, inicia-se um processo de crise com aqueles que os rodeiam, sejam familiares ou até mesmo amigos.

É impressionante como seja lá quem for esse casal/família, haja vista a mídia ter noticiado que até a Wanessa Camargo foi criticada pelo próprio pai por optar por um parto normal, o processo de conflito com a sociedade terá inicio.

Depois de observar vários casos em que o fenômeno se deu, passei a refletir sobre a razão que faz com que as pessoas se incomodem tanto com o parto alheio.

Vivemos em uma sociedade imediatista e de opiniões pouco críticas e nada profundas. A maioria esmagadora das condutas executadas são comportamentos replicados, sem que o sujeito praticante da conduta sequer tenha refletido sobre o porque de sua atitude.

O chamado parto humanizado e tudo o que engloba essa escolha nada mais é do que o retorno do poder e centro de atenção à mulher. Por isso fala-se tanto em empoderamento!

Optar por um caminho onde as escolhas são feitas é contrário a "optar" por uma cesárea sem necessidade. Isso porque sem informação segura, informação REAL, não há escolha e sim indução a participar de interesses que não o da mulher e menos ainda do bebê.

Fazer escolhas é um grito de liberdade, é retomar para si o direito que sempre foi e sempre será da mulher, a única e verdadeira protagonista desse momento. Direito que tem sido roubado, com as desculpas e motivos mais banais possíveis, por vezes fazendo com a própria gestante sinta que foi sua a escolha da cirurgia desnecessária.

Fazer escolhas na realidade em que vivemos é ser excêntrico! E não somente tendo o parto como referência. Hoje uma pessoa que escolhe, verdadeiramente falando, é considerado um lunático.

Pretender ser diferente da massa, ser uma pessoa mais consciente em qualquer aspecto da vida irá causar questionamentos e, em muitas vezes, reprovação da sociedade.

Portanto quando um casal/família optar por reivindicar seu direito de fazer escolhas durante a gestação, o parto e o pós-parto, direito esse que foi suprimido pela indústria de cirurgias cesarianas sem reais indicações, eles serão considerados loucos e como tal sofrerão toda sorte de comentários maldosos e também o inevitável desrespeito vindo de familiares e amigos.

É bastante desagradável e desgastante lidar com esse conflito, especialmente pelo fato de esperarmos apoio e compreensão daqueles que nos são mais próximos.

Penso também que muitas pessoas se sentem atacadas, e levam como ofensas pessoais o fato de não fazermos como eles fizeram. Então, o familiar/amigo que já tem filhos e por exemplo passou por uma cesárea, e na concepção desta pessoa tudo correu bem, pensa que não há porque você (a pessoa que está gestando) escolher algo diferente.

E você (que está gestando), como uma pessoa que respeita a escolha e história de cada um, não invade e julga a vida deste familiar/amigo afirmando que a cirurgia pode ter sido desnecessária, que procedimentos podem ter sido realizados contrários ao que preconiza a Organização Mundial de Saúde, que o melhor e mais seguro para mãe e bebê é sim o parto normal, e que as reais indicações de cesárea são poucas e por fim, que a taxa recomendada pela OMS é de apenas 15%, enquanto o Brasil convive com taxas de até 90% na rede privada.

É preciso que se entenda de uma vez por todas, faço esse apelo porque realmente gostaria que isso ficasse compreendido, que quem opta por um parto consciente não culpa as mulheres que passaram por uma cesárea sem real necessidade.

Não! Nós não culpamos nenhuma mulher que tenha se submetido a uma cirurgia cesariana (e tampouco culpamos as mulheres que de fato necessitaram da cesárea para salvar suas vidas e a de seus bebês!!!).

Apenas entendemos que essa mulher, que teve uma gestação saudável, sem intercorrências, e que poderia perfeitamente vivenciar a experiência do parto, não recebeu informação adequada sobre riscos e consequências. Essa mulher não teve seu direito respeitado de ser protagonista de um momento muito importante em sua vida. Essa mulher não foi informada sobre as condutas praticadas com o seu bebê, sobre a importância de respeitar o tempo dele. Essa mulher foi tratada e vista como meramente uma "mãezinha" que devia ocupar-se com os cuidados do quarto e enxoval de seu filho, enquanto o tal doutor lhe dizia que ele era o responsável pelo parto.

Nós, mulheres que escolhemos não acreditar que nossos corpos são um erro da natureza, um perigo para nossos bebês, tão mulheres quanto essa outras mulheres que tiveram seus partos roubados, apenas queremos dizer que desejamos com todo nosso coração que cada mulher levada a crer na incapacidade de seu corpo possa experimentar a alegria de ser protagonista, desejamos que partos não sejam mais roubados, que corpos não sofram intervenções desnecessárias, que bebês possam nascer no seu tempo, desejamos que profissionais não pensem somente nos seus interesses, desejamos ardentemente que pare de se dizer que o corpo da mulher é defeituoso e incapaz de parir e por isso precisa de tecnologia para fazer algo tão sagrado quanto dar à luz.

Nós desejamos que todas as mulheres possam entrar em contato com sua força e com isso possam fazer suas próprias escolhas, sejam elas em qualquer momento da vida. Nós acreditamos que toda mulher tem direito e merece atenção e cuidado durante sua gestação e é dever dos profissionais que assistem à essa mulher oferecer informação segura para que essa mulher faça escolhas INFORMADAS.

Quando a premissa de informação REAL/SEGURA não é respeitada a mulher é vítima do sistema obstétrico brasileiro. Em vista disso, a crítica que é feita em relação à cesáreas sem necessidade jamais se dirige a mulher, que é apenas uma vítima desse modelo.

Nós mulheres estamos do mesmo lado, muitas já tiveram seus partos roubados e após se darem conta disso conseguiram seu VBAC, como é o caso da cantora Wanessa Camargo.

De uma vez por todas que fique claro que a busca por um parto consciente, que assumir o protagonismo da MULHER não é um ataque a quem passou por uma cirurgia, é simplesmente um direito de toda gestante, conectar-se com seu corpo e fazer suas próprias escolhas.

Por Gabriela Bosse em www.despertarmaterno.com.br

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Muitas ...


Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também. E um polvo. Um restaurante delivery. Uma máquina de chocolate prontinho. Uma mecânica de carrinhos de controle remoto. Uma médica de bonecas. Uma professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre. Nasce uma fábrica de cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro. E principalmente: nasce a fada do beijo.

Quando nasce um bebê, nasce também o medo da morte - mães não se conformam em deixar o mundo sem encaminhar devidamente um filho.

Não pense você que ao se tornar mãe uma mulher abandona todas as mulheres que já foi um dia. Bobagem. Ganha mais mulheres em si mesma. Com seus desejos aumentam sua audácia, sua garra, seus poderes. Se já era impossível, cuidado: ela vira muitas. Também não me venha imaginar mães como seres delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém segura. Se antes eram incapazes de matar um mosquito, adquirem uma fúria inédita. Montam guarda ao lado de suas crias, capazes de matar tudo o que zumbir perto delas: pernilongos, lagartas, leões, gente.

Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto. Aprendem a pilotar o avião em pleno voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca tenham sido exemplo. Cobrem seus filhos com o cobertor que lhes falta. E, não raro, depois de fazerem o impossível, acreditam que poderiam ter feito melhor. Nunca estarão prontas para a tarefa gigantesca que é criar um filho - alguém está?

Mente quem diz que mãe sente menos dor - pelo contrário! Ela apenas aprende a deixar sua dor para outra hora. Atira o seu choro no chão para ir acalentar o do filho. Nas horas vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha. Encontra os amigos. Lê - ou adormece com um livro no rosto. E, quando tem tempo pra chorar - cadê? -, passou. A mãe então aproveita que a casa está calma e vai recolher os brinquedos da sala. “Como esse menino cresceu”, ela pensa, a caminho do quarto do filho. Termina o dia exausta, sentada no chão da sala, acompanhada de um sorriso besta.

Já os filhos, ah… Filhos fazem a mãe voltar os olhos para coisas que não importavam antes. O índice de umidade do ar. Os ingredientes do suco de caixinha. O nível de sódio do macarrão sem glúten. Onde fica a Guiné-Bissau. Os rumos da agricultura orgânica. As alternativas contra o aquecimento global. Política. E até sua própria saúde. Mães são mulheres ressuscitadas. Filhos as rejuvenescem, tornando a vida delas mais perigosa - e mais urgente.

Quando nasce um bebê, nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a estrada quando não há caminho, só para poder indicar: “É por ali, filho, naquela direção”.

Por Cris Guerra.