domingo, 23 de novembro de 2014

O que é vernix?

Vérnix, o que é isso? E porquê não devo ter pressa pra dar o primeiro banho no meu recém-nascido?
Publicado em 25 de fevereiro de 2014 por Gaby
bebê vérnixPouquíssimas pessoas tem a chance de ver e de tocar no vérnix, substância branca e gordurosa que cobre o corpo do bebê dentro do útero e ao nascimento, já que erroneamente, a prática hospitalar é fazer grande esfregaço no corpo do bebê antes e durante o banho até retirar todos resquícios de qualquer substância natural que o cubra.

O vérnix se forma pelo acúmulo de sercreção das glândulas sebáceas, células epiteliais e lanugem. Quanto mais avançada for a idade gestacional, menos quantidade de vérnix o bebê terá ao nascimento, mas isso não representa nenhuma desvantagem ou problema clínico. Ele tem como função fazer uma barreira na pele e evitar a perda de água, atuando como grande agente de hidratação. A barreira mecânica feita por esse creme ultra-hidratante é importante para as primeiras necessidades da pele do bebê, como por exemplo, a manutenção da sua temperatura e proteção contra infecções bacterianas.

Ele ajuda também na formação do manto ácido, responsável por evitar o o crescimento de bactérias patogênicas. Ao nascimento, o pH da superfície da pele é praticamente neutro (6.5), e se torna mais ácido com o tempo para aumentar a capacidade de defesa da pele.

A Organização Mundial de Saúde em suas diretrizes para os cuidados com o bebê indica que o primeiro banho não deve ser dado antes das primeiras seis horas de vida. Muitos hospitais com práticas humanistas na Europa deixam e orientam que os pais dêem o primeiro banho apenas no dia seguinte ao nascimento e muitos neonatologistas declaram que quanto mais tarde, melhor, assegurando que não há nenhum mal ou risco nisso e que os resíduos de parto não são sujeira, portanto estão longe de provocar qualquer contaminação. Novas pesquisas indicam que o vérnix possui propriedades imunológicas; deixá-lo mais tempo sobre a pele do bebê é o mesmo que deixar por mais tempo uma importante camada de proteção, fazendo com que seu sistema imunológico se fortaleça.

Essa prática de adiar ao máximo o banho faz mais sentido ainda para os nascimentos em hospitais, onde todos estão mais expostos ao risco de infecções. O vernix ainda contém melanina, que protege a pele do bebê contra a radiação ultravioleta da luz solar e suas propriedades ultra-hidratantes manterão a pele do bebê mais macia e elástica.

Há muitas razões para que pais passem a questionar não só o momento do primeiro banho, como a maneira como ele é realizado, e uma delas é por causa do líquido aminiótico, onde o bebê esteve imerso todo o tempo dentro do útero. O líquido aminiótico tem também a função de prover resistência extra à infecções, ou seja, quanto mais tempo o bebê ficar em contato com o líquido aminiótico em seu corpo após o nascimento, melhor.

Ao nascer, o bebê precisa apenas ter seu corpo delicadamente seco, isso pode ser feito com calma, estando ele colado ao corpo da sua mãe, afinal, os bebês querem e precisam ficar o mais próximo às suas mães pelo maior período de tempo no pós-parto imediato, e nas primeiras horas de vida.

Não há razão de promover separação por causa do banho. O calor e o cheiro do corpo da mãe, e contato pele-a-pele, o início da amamentação devem ser prioridades na primeira hora de vida do bebê, e não o banho, muito menos os esfregaços vigorosos dados pela equipe de enfermagem, para que o bebê não traga nenhum resquício de nenhuma substância de sua vida intra-uterina. Separar mãe e bebê nessa hora crucial com o propósito de dar-lhe banho não tem nenhuma base científica.

A transição do meio líquido intra-útero para o meio aéreo ao nascimento deve ser a mais suave possível. O bebê precisa sentir segurança e o único lugar onde isso é plenamente possível é no colo de sua mãe. Recém-nascidos precisam, ao nascimento regular sua temperatura, e tanto a presença do vérnix em seu corpo como o contato pele-a-pele com sua mãe fazem grande diferença nesse processo.

Retirar o bebê de perto de sua mãe o obrigará a efetuar maior esforço para manter sua temperatura ideal, e a pele da mãe é o lugar ideal para que o bebê faça isso. Outro problema relacionado também com essa separação é que ela também altera os níveis de stress e açúcar no sangue do bebê.

Longe da mãe, ele certamente vai chorar, se sentir desprotegido, desconfortável e angustiado, seu corpo irá secretar hormônios em resposta a essa nova situação, seus batimentos cardíacos e pressão sanguínea podem aumentar e os níveis de glicose caírem temporariamente, e se a glicose no bebê estiver sendo monitorada, provavelmente ele receberá soro glicosado e fórmula, o que pode caracterizar já nesse momento uma das primeiras intervenções para aumentar o risco em comprometer o estabelecimento do aleitamento.

Parece trágico e fatalista, mas quando se agregam tantos outros fatores relacionados à hospitalização e suas intervenções não científicas, vê-se que isso é mais corriqueiro do que parece. É o famoso efeito cascata, que ocorre constantemente dentro dos serviços de saúde.

Por isso, além de se ter um plano de parto para si, é importante que as mulheres tenham em mente quais são os procedimentos para com os seus bebês ao nascer, fazerem suas escolhas e lutar pore elas. Se mãe e bebê permanecem juntos por mais tempo, há maiores chances dele manter tanto os níveis de temperatura quanto de açúcar no sangue adequados.

O bebê pode ser banhado sem pressa num outro momento, seja por sua mãe, seu pai ou mesmo por alguém mais próximo da família escolhido por seus pais. Isso significa estreitar mais ainda laços que foram construídos ao longo da gestação, já que o bebê conhece mãe, pai e parentes próximos pela voz, faz todo sentido que esse primeiro cuidado, o banho seja realizado pro algém mais íntimo. É claro que uma enfermeira amorosa pode fazer um super trabalho ao dar o primeiro banho do bebê, mas sem pressa, o bebê não precisa disso.

Por Gaby Patriota, doula e educadora perinatal.

Referências:

Loring, C., Gregory, K., Gargan, B., LeBlanc, V., Lundgren, D., Reilly, J., . . . Zaya, C. (2012). Tub bathing improves thermoregulation of the late preterm infant. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs, 41(2), 171-179. doi: 10.1111/j.1552-6909.2011.01332.x

Medoff Cooper, B., Holditch-Davis, D., Verklan, M. T., Fraser-Askin, D., Lamp, J., Santa-Donato, A., . . . Bingham, D. (2012). Newborn clinical outcomes of the AWHONN late preterm infant research-based practice project. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs, 41(6), 774-785. doi: 10.1111/j.1552-6909.2012.01401.x

Ng, P. C., Wong, H. L., Lyon, D. J., So, K. W., Liu, F., Lam, R. K., . . . Fok, T. F. (2004). Combined use of alcohol hand rub and gloves reduces the incidence of late onset infection in very low birthweight infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed, 89(4), F336-340. doi: 10.1136/adc.2003.031104

Preer, G., Pisegna, J. M., Cook, J. T., Henri, A. M., & Philipp, B. L. (2013). Delaying the Bath and In-Hospital Breastfeeding Rates. Breastfeed Med. doi: 10.1089/bfm.2012.0158

Visscher, M. O., Utturkar, R., Pickens, W. L., LaRuffa, A. A., Robinson, M., Wickett, R. R., . . . Hoath, S. B. (2011). Neonatal skin maturation–vernix caseosa and free amino acids. Pediatr Dermatol, 28(2), 122-132. doi: 10.1111/j.1525-1470.2011.01309.x

sábado, 22 de novembro de 2014

Parto Humanizado

O parto humanizado é quando a mulher tem suas vontades respeitadas. Ela é avisada sobre os procedimentos o porque é feito e ela escolhe se deseja ou não fazê-lo. Ela pode se alimentar e beber líquidos, escolher a posição, andar, sentar, agachar, chorar, gritar, cantar, dançar,  escutar música,  falar ao telefone,  mexer no celular,  pode estar antes, durante e depois com um acompanhante o tempo todo,  ela pode fazer força quando sentir vontade ( força comprida ou força de coco aumentam as lacerações e aumenta o risco de sair hemorróidas) o bebê não é puxado,  ninguém sobe em cima da barriga da mulher,  nem mutila sua vagina (corte, pique, episiotomia), não induzem o parto,  não colocam soro com ocitocina (isto dói muito),  não estouram sua bolsa ( ai isto dói), a mãe pode ficar na banheira quentinha ou chuveiro para ajudar a relaxar e na dilatação,  o seu tempo, momento e vontades são aceitos, ela recebe apoio e aconchego, a mãe pode ter o bebê sentada no banco de parto, de cócoras (uma das melhores posições), você não é obrigada a fica deitada em posição ginecológica,  nem será submetida a exames de toques desnecessarios, quando seu bebê nascer, ele vai direto para o seu colo,  se ele quiser já pode  mamar,  o cordão umbilical nao é cortado imediatamente,  só depois de terminar de transmitir todo o sangue que há nele, que pertence ao seu bebê, o que garante em risco zero de anemia, isso leva uns 10 minutos, seu bebê não é levado para longe de você e nem fica horas no berçário,  o alojamento é conjunto o que favorece o vínculo entre a mãe e o bebê.  O parto humanizado é isso... Respeito pela mãe e pelo bebê.
Tenha seu filho, o parto é seu, as escolhas são suas, empodere- se e não tenha o momento mais feliz da sua vida roubado!
As pessoas não entendem o quanto a sociedade trata com violência a mulher, nos inferioriza, violenta, nós temos o direito de
sermos respeitadas. Está enraizado na nossa cultura que é normal a mulher sofrer,  sentir muita dor, mas a verdade seja dita,  as contrações doem sim e muito (cólicas fortes ), afinal os ossos estão se abrindo para o bb passar,  mas o que realmente dói,  é a violência,  são as intervenções desnecessárias e invasivas, a falta de respeito com as suas vontades,  é o corte, isto é o que realmente dói, e mais do que fisicamente,  dói na alma, pela violência sofrida e por isto a maioria não quer ter parto normal,  mas não sabem que este parto de normal não tem nada. Este é um parto anormal. Por isto quem tem, fica horrorizada,  ou não quer ter mais filhos ou prefere cesárea.

Não deixe o bebê chorar

De todas as teorias do universo materno, as que me assustam são: não dar colo para o bebê, regular a amamentação em horários cronológicos e deixar o bebê chorando. Elas me pegam na alma.

Bebes não sabem falar, nasceram em um ambiente aquático, escuro, cheio de movimento e calor e estão do lado de fora.

Precisam ser alimentados, estranham. Descobrem no peito uma maneira de ter o aconchego pleno.

Basta ver uma cadela: quando o filhote chora a mãe corre e aconchega. Bebês não choram a toa e se choram estão pedindo:

- Por favor me ajude

Ajude a dormir, a enfrentar a solidão, a lidar com a temperatura que oscila.

Quando um bebê pede colo ele está reconhecendo que você é uma segurança.

Quando você nega esse colo ele pode se acostumar com a negligência e resignar-se. Mas ele não está feliz.

Eu adoro o conceito: permita que as crianças sejam dependentes no momento em que podem ser, para que sejam independentes para toda a vida.

O que mais vejo neste mundo são pessoas dependentes e resignadas.

Dependentes de comida, de medicamentos, de sexo, de necessidade de aceitação.

São, algumas vezes, sobreviventes de pequenos ou grandes abandonos.

Algumas vezes vendo esses programas que difundem a idéia da Torturadora de bebês eu sinto algo inexplicável: eu choro com a mãe que chora, com o filho que dorme soluçando.

Não há nada mais fácil e prazeroso para mãe e bebê do que deitar junto com o bebe e dormir agarradinho.

É tão rápido que eles crescem. O que são 3 anos diante de uma vida toda?

Queremos tanto a independência precoce, exaltamos isso como troféu e depois questionamos onde se perdeu esse fio.

Eu vejo idosos abandonados com cuidadores ou em asilos e vejo ali o reflexo de uma sociedade que fecha os olhos para os dependentes trocando o amor por tecnologia, chupeta, mamadeira, berço que balança e no fim, uma cama fria e olhos de uma profissional contratada.

Assim começa a vida, assim ela termina. No meio um grande vazio que tentamos preencher. Um vazio cultivado em nome dessa ilusória independência precoce.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Você sabe o que é Violência obstétrica?

– Tratar a gestante ou parturiente de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer outra forma que a faça se sentir constrangida pelo tratamento recebido;

II – Recriminar a parturiente por qualquer comportamento como gritar, chorar, ter medo, vergonha ou dúvidas, bem como, por característica ou ato físico como, por exemplo, obesidade, pelos, estrias, evacuação e outros;

III – Não ouvir as queixas e dúvidas da mulher internada e em trabalho de parto;

IV – Tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, tratando-a como incapaz;

V – Fazer a gestante ou parturiente acreditar que precisa de uma cesariana quando esta não se faz necessária, utilizando de riscos imaginários ou hipotéticos não comprovados e sem a devida explicação dos riscos que alcançam ela e o bebê;

VI -Realização de procedimentos que incidam sobre o corpo da mulher, que interfiram ou causem dor, ou dano físico com o intuito de acelerar o parto por conveniência médica.

VII- Recusar atendimento de parto, haja vista este ser uma emergência médica;

VIII- Promover a transferência da internação da gestante ou parturiente sem a análise e a confirmação prévia de haver vaga e garantia de atendimento, bem como tempo suficiente para que esta chegue ao local;

IX – Impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência durante todo o trabalho de parto;

X- Impedir a mulher de se comunicar, tirando-lhe a liberdade de telefonar, fazer uso de aparelho celular, caminhar até a sala de espera, conversar com familiares e com seu acompanhante;

XI- Submeter a mulher a procedimentos dolorosos, desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, exame de toque por mais de um profissional;

XII – Deixar de aplicar anestesia na parturiente quando esta assim o requerer;

XIII – Proceder a episiotomia quando esta não é realmente imprescindível;

XIV – Manter algemadas as detentas em trabalho de parto;

XV – Fazer qualquer procedimento sem, previamente, pedir permissão ou explicar, com palavras simples, a necessidade do que está sendo oferecido ou recomendado;

XVI- Após o trabalho de parto, demorar injustificadamente para acomodar a mulher no quarto;

XVII- Submeter a mulher e/ou o bebê a procedimentos feitos exclusivamente para treinar estudantes;

XVIII – Submeter o bebê saudável a aspiração de rotina, injeções ou procedimentos na primeira hora de vida, sem que antes tenha sido colocado em contato pele a pele com a mãe e de ter tido a chance de mamar;

XIX – Retirar da mulher, depois do parto, o direito de ter o bebê ao seu lado no Alojamento Conjunto e de amamentar em livre demanda, salvo se um deles, ou ambos necessitarem de cuidados especiais;

XX – Não informar a mulher, com mais de 25 (vinte e cinco) anos ou com mais de 02 (dois) filhos sobre seu direito à realização de ligadura nas trompas gratuitamente nos hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS);

XXI – Tratar o pai do bebê como visita e obstar seu livre acesso para acompanhar a parturiente e o bebê a qualquer hora do dia.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O valor de uma dona de casa

Um homem chegou em casa, após o trabalho, e encontrou seus três filhos brincando do lado de fora, ainda vestindo pijamas.
Estavam sujos de terra, cercados por embalagens vazias de comida entregue em casa.
A porta do carro da sua esposa estava aberta.
A porta da frente da casa também.
O cachorro estava sumido, não veio recebê-lo.
Enquanto ele entrava em casa, achava mais e mais bagunça.
A lâmpada da sala estava queimada, o tapete estava enrolado e encostado na parede.
Na sala de estar, a televisão ligada aos berros num desenho animado qualquer, e o chão estava atulhado de brinquedos e roupas espalhadas.
Na cozinha, a pia estava transbordando de pratos; ainda havia café da manhã na mesa, a geladeira estava aberta, tinha comida de cachorro no chão e até um copo quebrado em cima do balcão.
Sem contar que tinha um montinho de areia perto da porta.
Assustado, ele subiu correndo as escadas, desviando dos brinquedos espalhados e de peças de roupa suja.
‘Será que a minha mulher passou mal?’ ele pensou.
‘Será que alguma coisa grave aconteceu?’
Daí ele viu um fio de água correndo pelo chão, vindo do banheiro.
Lá ele encontrou mais brinquedos no chão, toalhas ensopadas, sabonete líquido espalhado por toda parte e muito papel higiênico na pia.
A pasta de dente tinha sido usada e deixada aberta e a banheira transbordando água e espuma.
Finalmente, ao entrar no quarto de casal, ele encontrou sua mulher ainda de pijama, na cama, deitada e lendo uma revista.
Ele olhou para ela completamente confuso, e perguntou: Que diabos aconteceu aqui em casa?
Por que toda essa bagunça?
Ela sorriu e disse:
- Todo dia, quando você chega do trabalho, me pergunta:
- Afinal de contas, o que você fez o dia inteiro dentro de casa?’
- Bem… Hoje eu não fiz nada, FOFO !!!!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Publicidade infantil

O único alimento infantil produzido pela natureza se chama leite materno. Depois do desmame, os pequenos passam a se alimentar com comida comum a todos os humanos. O que muda é o preparo. Legumes amassadinhos, papinhas de fruta, carne desfiada, mingau de cereal.

Em todos os tempos, em todas as culturas, sempre foi assim. Isto é, até chegar na nossa vez.

Os pais e mães de hoje convivem com uma realidade inédita na história humana. A “comida infantil” inventada pelo marketing da indústria alimentícia. Entra em cena um extenso cardápio de “alimentos” anunciados como práticos para a mamãe e mais aceitos pelos pequenos: sopa pronta, nuggets, bisnaguinhas, bolinhos, biscoitos, petit suisse, macarrão instantâneo, leite fermentado, lanches de microondas, sucos e néctares (em pó, concentrado e de caixinha), refrigerantes, preparados à base de leite, cereais matinais, achocolatados, salgadinhos, combos de fast food, embutidos etc. Isso sem falar nas balas, pirulitos e outras guloseimas.

Observe que nenhum desses produtos é invenção da natureza. Todos são criação da indústria alimentícia que calculou, sabidamente, que uma família consumiria mais se tivesse que comprar alimentos diferentes para os adultos e para as crianças. Isso se chama criar nichos de venda, segmentar o mercado consumidor.

A criatividade da publicidade torna tudo ainda mais confuso. Começamos a realmente acreditar que criança tem mesmo que comer comidas mais fofinhas, doces, coloridas, acompanhadas de brinquedos e personagens. E confiamos que essas comidas são seguras para darmos aos nosso filhos.

O problema é que esses alimentos costumam ser pobres nutricionalmente. Enchem barriga, mas não nutrem como deveriam um corpo em desenvolvimento. Pior ainda, atrapalham por serem ricos em aditivos, conservantes, sódio, açúcar, gordura e farinha refinada.

Resumindo, os alimentos que o marketing transformou em comida para criança podem fazer mal aos pequenos. Além de criarem péssimos hábitos alimentares que dificilmente serão abandonados na vida adulta. E hábitos ruins fazem um bem danado para o mercado de comida pronta.

Estudos hoje apontam que esse problema se torna ainda maior nas classes mais pobres. Com o aumento da renda, os pais estão sendo seduzidos pelo doce canto da indústria. E festejam poder colocar na mesa produtos que antes eram exclusividade das classes média e alta. O problema aqui é que não sobra dinheiro para os alimentos que complementam essa dieta pobre. Frutas, legumes, peixes, raízes, grãos e cereais integrais não entram no cardápio. Pesquisadores alertam para uma geração de brasileirinhos obesos e mal nutridos.

Não podemos condená-los. Neste nosso Brasil das diferenças, a publicidade conseguiu transformar comida industrializada em símbolo de status. Comprá-los é poder dar aos filhos tudo “de bom e do melhor”. É não deixar a garotada “passar vontade”. É realizar o sonho de uma vida “prática” e “moderna”.

Comida pronta faz de mim e dos meus filhos alguém de valor. Com diabetes, pressão alta, colesterol, intestino preso e acima do peso. Mas, enquanto estiver dando para comprar o biscoito recheado deles, está tudo bem.

Tais Vinha
Artigo publicado no MILC.

sábado, 1 de novembro de 2014

9 coisas estúpidas para (não) dizer à mãe que amamenta

(e, pra não perder o costume, as opções de resposta ao gosto do freguês!)

1. Você não prefere ir amamentar em um local mais reservado??

resposta polida-cara-de-alface: não, obrigada. mas eu queria um copo de água, amamentar dá uma sede… você pegaria pra mim?
resposta baseada em evidências: olha, livre demanda significa que, na hora que meu bebê chorar, eu vou amamentá-lo. isso, às vezes, significa dar o peito de dez em dez minutos, ou seja (do the math!), umas seis vezes em uma hora. imagina só se eu tiver que sair do lugar de onde estou para procurar um “lugar reservado” toda vez que isso acontecer? melhor nem sair de casa, não acha??
resposta voadora-no-peito: se eu preferisse, já estava lá. e você, não prefere não se meter na vida dos outros?

2. Você não quer se cobrir um pouquinho?

resposta polida-cara-de-alface: não, obrigada. nossa, me deu um calor de repente… acho que vou procurar alguém pra me abanar enquanto eu amamento, me dá uma licencinha?
resposta baseada em evidências: olha, colocar um pano sobre o bebê não é algo muito confortável. você já se imaginou comendo com um pano em cima de você, sem conseguir respirar direito e sem poder ver o que se passa ao seu redor? estranho, não? além do mais, o contato olho no olho entre mãe e bebê durante o aleitamento é super bacana e especial, fortalece o vínculo e até auxilia na produção de leite.
resposta voadora-no-peito: não tô a fim não, mas se você estiver muito envergonhado, te arrumo um tapa-olho rapidinho. quer?

3. Mas ele chora tanto… será que não está passando fome??

resposta polida-cara-de-alface: não, acho que não… mas eu estou faminta, amamentar dá uma fome de leão… você não quer ir buscar alguma coisa pra eu comer?
resposta baseada em evidências: olha, os bebês choram por uma infinidade de motivos. choram porque estão cansados, entediados, com sono, porque sentem saudades da barriga, porque se assustam com alguma coisa, porque ficam angustiados sem saber direito porque… o importante é a gente acolher e estar conectado com o bebê, para compreender do que ele precisa e oferecer consolo, com o peito sempre que ele aceitar, ou com colo e muito carinho.
resposta voadora-no-peito: pois é, eu já tentei oferecer um hambúrguer com milk shake pra encher a barriga, mas sabe que o moleque cuspiu?? essa nova geração é muito rebelde… não tem jeito, tenho que me conformar!

4. Ele está meio magrinho… será que o seu leite não é fraco, não?

resposta polida-cara-de-alface: não sei, vou perguntar pro pediatra na próxima consulta. mas por falar em fraqueza, olha só as minhas unhas, estão tão quebradiças… você conhece alguma fórmula mágica de fortalecimento das unhas?
resposta baseada em evidências: olha, leite fraco é um mito. não existe leite fraco. o leite materno é um alimento perfeito, na medida das necessidades nutricionais do bebê, e quando se respeita a livre demanda, ele consome exatamente o que precisa: o leite magro para matar a sede, e o leite mais gordo para matar a fome e engordar.
resposta voadora-no-peito: deve ser, mas é que tô querendo treinar o meu bebê para ser faquir quando crescer, o que que cê acha, tem futuro, né?

5. Será que não é melhor dar um chazinho/água/whatever para ele?

resposta polida-cara-de-alface: ele só toma o meu leite mesmo, obrigada. mas se quiser arrumar um chazinho pra mim, vou adorar, sou apaixonada por chás!
resposta baseada em evidências: bem, até os seis meses, o bebê não precisa de absolutamente nada além do leite materno. o leite da mãe supre todas as necessidades nutricionais e afetivas do bebê, mata a fome e a sede também. e com a livre demanda, o bebê mama exatamente o tanto de que precisa para se desenvolver forte e saudável.
resposta voadora-no-peito: olha, se tiver chá de quebra-chato-que-diz-bobagem pode fazer um litro, e já toma tudo de uma vez, pra ver se resolve teu caso, quem sabe… a esperança é a última que morre, né?

6. Mas já vai mamar de novo? Esse bebê está ficando mimado, hein??

resposta polida-cara-de-alface: é, vou pensar nisso… mas menina, você viu a capa da Veja dessa semana, que coisa horrorosa?
resposta baseada em evidências: olha, bebês não são mimados, nem fazem manha. bebês têm necessidades muito pontuais e verdadeiras, e pedem que elas sejam atendidas. se ele está pedindo para mamar de novo, é porque está precisando deste contato – seja por fome, por vontade de aconchego, ou pelo que for. dar peito, colo e afeto em livre demanda não tem nada a ver com “mimar”, tem a ver com cuidar com acolhimento, apego e respeito às necessidades e sentimentos do bebê.
resposta voadora-no-peito: mas menina, que obsessão essa sua de controlar os tempos, parece cronômetro! vou te chamar lá em casa da próxima vez que for assar um bolo, funciona melhor do que timer!

7. Ele não está fazendo o seu peito de chupeta, não?

resposta polida-cara-de-alface: estamos bem assim, obrigada. mas menina, e o problema da falta de água em são paulo, que coisa hein?
resposta baseada em evidências: bem, essa equação está invertida. na verdade, o “artefato original” cuja função primordial é ir parar na boca do bebê para confortá-lo, é o seio materno. a chupeta é que veio tentar substituí-lo (mal e porcamente, se quer saber minha opinião). então, bebês que chupam chupeta é que fazem a chupeta de peito, e não o contrário.
resposta voadora-no-peito: fia, o peito é meu, o filho é meu… o que é que você tem a ver com isso mesmo?

8. Mas com essa idade, e ainda mama??

resposta polida-cara-de-alface: pois é, mama. menina, o tempo virou essa semana, não? tão dizendo que pode até nevar no sul, já pensou?
resposta baseada em evidências: mama, e ainda vai mamar por um bom tempo. você sabia que a OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida, e complementar até os 2 anos ou mais? e que mesmo depois do fim do aleitamento exclusivo, o leite materno continua sendo uma fonte nutricional importantíssima para o bebê?
resposta voadora-no-peito: e você, com essa idade, ainda dá pitaco na vida alheia?

9. E o desmame, quando vai ser?

resposta polida-cara-de-alface: não sei, vamos ver… mas e o novo filme da Angelina Jolie, você viu?
resposta baseada em evidências: você já ouviu falar sobre desmame natural? ele acontece quando a criança demonstra que já está preparada para cortar esse laço e dar outros passos em seu desenvolvimento. esse momento não tem data certa para acontecer, porque cada criança é única e tem seu tempo para deixar de mamar. a mãe só precisa estar conectada, para perceber quando a hora chegar, e o desmame vai acontecer com suavidade e sem sofrimento.
resposta voadora-no-peito: olha, tô imaginando que ele vai querer largar lá pela adolescência, acho que vai ficar meio envergonhado de mamar na frente da turma, né? por que, tá esperando o peito vagar?

ps: de novo, todas as bobagens acima foram ouvidas por mim, nos meus praticamente oito anos de amamentação ininterrupta…

ps2: post em homenagem à Semana Mundial do Aleitamento Materno :-)