domingo, 23 de novembro de 2014

O que é vernix?

Vérnix, o que é isso? E porquê não devo ter pressa pra dar o primeiro banho no meu recém-nascido?
Publicado em 25 de fevereiro de 2014 por Gaby
bebê vérnixPouquíssimas pessoas tem a chance de ver e de tocar no vérnix, substância branca e gordurosa que cobre o corpo do bebê dentro do útero e ao nascimento, já que erroneamente, a prática hospitalar é fazer grande esfregaço no corpo do bebê antes e durante o banho até retirar todos resquícios de qualquer substância natural que o cubra.

O vérnix se forma pelo acúmulo de sercreção das glândulas sebáceas, células epiteliais e lanugem. Quanto mais avançada for a idade gestacional, menos quantidade de vérnix o bebê terá ao nascimento, mas isso não representa nenhuma desvantagem ou problema clínico. Ele tem como função fazer uma barreira na pele e evitar a perda de água, atuando como grande agente de hidratação. A barreira mecânica feita por esse creme ultra-hidratante é importante para as primeiras necessidades da pele do bebê, como por exemplo, a manutenção da sua temperatura e proteção contra infecções bacterianas.

Ele ajuda também na formação do manto ácido, responsável por evitar o o crescimento de bactérias patogênicas. Ao nascimento, o pH da superfície da pele é praticamente neutro (6.5), e se torna mais ácido com o tempo para aumentar a capacidade de defesa da pele.

A Organização Mundial de Saúde em suas diretrizes para os cuidados com o bebê indica que o primeiro banho não deve ser dado antes das primeiras seis horas de vida. Muitos hospitais com práticas humanistas na Europa deixam e orientam que os pais dêem o primeiro banho apenas no dia seguinte ao nascimento e muitos neonatologistas declaram que quanto mais tarde, melhor, assegurando que não há nenhum mal ou risco nisso e que os resíduos de parto não são sujeira, portanto estão longe de provocar qualquer contaminação. Novas pesquisas indicam que o vérnix possui propriedades imunológicas; deixá-lo mais tempo sobre a pele do bebê é o mesmo que deixar por mais tempo uma importante camada de proteção, fazendo com que seu sistema imunológico se fortaleça.

Essa prática de adiar ao máximo o banho faz mais sentido ainda para os nascimentos em hospitais, onde todos estão mais expostos ao risco de infecções. O vernix ainda contém melanina, que protege a pele do bebê contra a radiação ultravioleta da luz solar e suas propriedades ultra-hidratantes manterão a pele do bebê mais macia e elástica.

Há muitas razões para que pais passem a questionar não só o momento do primeiro banho, como a maneira como ele é realizado, e uma delas é por causa do líquido aminiótico, onde o bebê esteve imerso todo o tempo dentro do útero. O líquido aminiótico tem também a função de prover resistência extra à infecções, ou seja, quanto mais tempo o bebê ficar em contato com o líquido aminiótico em seu corpo após o nascimento, melhor.

Ao nascer, o bebê precisa apenas ter seu corpo delicadamente seco, isso pode ser feito com calma, estando ele colado ao corpo da sua mãe, afinal, os bebês querem e precisam ficar o mais próximo às suas mães pelo maior período de tempo no pós-parto imediato, e nas primeiras horas de vida.

Não há razão de promover separação por causa do banho. O calor e o cheiro do corpo da mãe, e contato pele-a-pele, o início da amamentação devem ser prioridades na primeira hora de vida do bebê, e não o banho, muito menos os esfregaços vigorosos dados pela equipe de enfermagem, para que o bebê não traga nenhum resquício de nenhuma substância de sua vida intra-uterina. Separar mãe e bebê nessa hora crucial com o propósito de dar-lhe banho não tem nenhuma base científica.

A transição do meio líquido intra-útero para o meio aéreo ao nascimento deve ser a mais suave possível. O bebê precisa sentir segurança e o único lugar onde isso é plenamente possível é no colo de sua mãe. Recém-nascidos precisam, ao nascimento regular sua temperatura, e tanto a presença do vérnix em seu corpo como o contato pele-a-pele com sua mãe fazem grande diferença nesse processo.

Retirar o bebê de perto de sua mãe o obrigará a efetuar maior esforço para manter sua temperatura ideal, e a pele da mãe é o lugar ideal para que o bebê faça isso. Outro problema relacionado também com essa separação é que ela também altera os níveis de stress e açúcar no sangue do bebê.

Longe da mãe, ele certamente vai chorar, se sentir desprotegido, desconfortável e angustiado, seu corpo irá secretar hormônios em resposta a essa nova situação, seus batimentos cardíacos e pressão sanguínea podem aumentar e os níveis de glicose caírem temporariamente, e se a glicose no bebê estiver sendo monitorada, provavelmente ele receberá soro glicosado e fórmula, o que pode caracterizar já nesse momento uma das primeiras intervenções para aumentar o risco em comprometer o estabelecimento do aleitamento.

Parece trágico e fatalista, mas quando se agregam tantos outros fatores relacionados à hospitalização e suas intervenções não científicas, vê-se que isso é mais corriqueiro do que parece. É o famoso efeito cascata, que ocorre constantemente dentro dos serviços de saúde.

Por isso, além de se ter um plano de parto para si, é importante que as mulheres tenham em mente quais são os procedimentos para com os seus bebês ao nascer, fazerem suas escolhas e lutar pore elas. Se mãe e bebê permanecem juntos por mais tempo, há maiores chances dele manter tanto os níveis de temperatura quanto de açúcar no sangue adequados.

O bebê pode ser banhado sem pressa num outro momento, seja por sua mãe, seu pai ou mesmo por alguém mais próximo da família escolhido por seus pais. Isso significa estreitar mais ainda laços que foram construídos ao longo da gestação, já que o bebê conhece mãe, pai e parentes próximos pela voz, faz todo sentido que esse primeiro cuidado, o banho seja realizado pro algém mais íntimo. É claro que uma enfermeira amorosa pode fazer um super trabalho ao dar o primeiro banho do bebê, mas sem pressa, o bebê não precisa disso.

Por Gaby Patriota, doula e educadora perinatal.

Referências:

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